O Brics, até recentemente, era visto pelas economias do G7 (grupo que reúne Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Japão) como um bloco com mais divergências do que interesses em comum, longe de representar qualquer risco aos donos do mundo. Essa indiferença com o Brics permaneceu nas últimas duas décadas, apesar da expansão econômica acelerada da China e da Índia.
O alerta de que algo novo poderia desafiar a hegemonia do G7 se deu no ano passado com a entrada de novos parceiros no Brics, formado por Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul. Mais quatro países aderiram: Emirados Árabes Unidos, Irã, Egito e Etiópia. A Arábia Saudita deve selar sua participação neste mês.
O bloco ficou mais heterogêneo, sobretudo do ponto de vista político, ao misturar ditaduras e democracias num mesmo balaio, mas tornou-se um colosso econômico. O Brics ampliado, ou Brics+, como está sendo chamado, representa (com a participação da Arábia Saudita) 46% da população do planeta, 38% do PIB e 23% das exportações globais, além de 43% da produção mundial de petróleo. Entre as dez maiores economias do mundo, três – China, Brasil e Índia – são do Brics.
Especialistas em geopolítica e comércio internacional dizem que o Brics não desbancará a supremacia ocidental no curto prazo, escreve Consuelo Dieguez, na edição deste mês da piauí. Mas é generalizada a crença de que, pela primeira vez desde sua criação em 1944, o sistema de Bretton Woods – que estabeleceu as bases da ordem liberal mundial, com seus organismos tentaculares, como FMI, Banco Mundial, além da ONU – está sendo colocado em xeque.
“O Brics não representa um desafio militar aos Estados Unidos e nem ideológico”, diz o embaixador aposentado Marcos Azambuja. “O que os países do bloco sugerem, principalmente pela força econômica da China e da Índia, é uma nova competência, uma capacidade de fazer melhor. E, sobretudo, o bloco sugere o deslocamento do poder, tendo o Oceano Pacífico, e não só o Atlântico Norte, como ponto de atração.”
“Antes do Brics nós éramos chamados apenas para o cafezinho”, disse um diplomata brasileiro. “Quer dizer, os países do G7 decidiam e os outros chegavam ao final da reunião apenas para acatarem as decisões. O Brics se tornou relevante porque tem países relevantes. Queremos tomar parte nas decisões.”
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