Livro retrata como a crise ambiental está sendo vivida no sertão da Bahia

Aprosa brasileira ganha uma novidade original com o lançamento de Contra fogo, romance de estreia do biólogo paulista Pablo L. C. Casella. Lançado em março de 2024, no final de um fenômeno El Niño que turbinou a temporada de incêndios florestais em vários biomas do Brasil, o livro retrata como a crise ambiental está sendo vivida no sertão da Bahia, especificamente numa brigada voluntária de combate a incêndios florestais na Chapada Diamantina. É um local que Casella conhece bem, pois ele chegou a atuar na linha de frente do combate ao fogo na região, ainda que nos últimos anos venha se dedicando mais a tarefas de gestão.

A trajetória do autor e a sua vivência são a matéria-prima para a narrativa, mas Contra fogo não é um livro de autoficção. O protagonista é um nativo – Dejanir de Oliveira Dourado, ou Deja, o líder dos brigadistas, que conta a história em primeira pessoa. Casella optou por uma narrativa dominada pela oralidade, com o vocabulário e a gramática da fala dos brigadistas. É pelo olhar de Deja que enxergamos as táticas e a divisão de tarefas para controlar o fogo. E é também a partir de sua perspectiva que vivemos sua dificuldade de conciliar a dedicação à brigada, um trabalho que ele enxerga como uma missão, e a vida familiar.

A tensão do brigadista entre se entregar ao fogo ou cuidar da família atravessa todo o romance. Deja tem questões importantes para resolver com a mulher, com os filhos e consigo mesmo. Mergulhar de cabeça no combate aos incêndios florestais é como ele expia suas culpas e exorciza os fantasmas do passado. Se alguns colegas se entregam ao álcool, a brigada é a sua cachaça. Os dilemas do protagonista sustentam as mais de trezentas páginas de narrativa, mas o ponto forte do livro são as cenas de combate ao fogo, que transportam o leitor para as matas da chapada em chamas e são descritas com uma minúcia que deixa cheiro de fumaça no ar.

A emergência climática é o pano de fundo sobre o qual se desenrola a ação dos brigadistas. Os moradores experimentam na pele as transformações ambientais que estão deixando algumas regiões da Chapada mais quentes e secas e, portanto, mais propensas ao fogo. Em dado momento, Deja se espanta com cinco ou seis incêndios simultâneos dentro do parque nacional. “A gente não tá num tempo normal”, ele diz a um colega. Contra fogo se soma a exemplos recentes da ficção brasileira que refletem ou são inspirados pela emergência climática, elevando o nível desse gênero em ascensão.

Piauí Folha

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