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  • Destaque
  • 15 de agosto de 2025

Violência interrompe infância nas áreas pobres do Rio

Em janeiro de 2020, numa noite bem abafada, o menino Arthur Monteiro, de apenas 5 anos, saiu com o pai para jogar futebol numa quadra do Morro São João, favela na Zona Norte do Rio de Janeiro. O menino era fascinado pelo esporte. Mal os dois pisaram na quadra, ouviram um estampido seco. Logo em seguida, o pá-pá-pá de uma intensa troca de tiros tomou conta dos arredores. Traficantes do Comando Vermelho e PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (OPP) trocavam chumbo grosso.

Paulo Roberto, o pai de Arthur, agarrou o filho e se jogou no chão. Queria protegê-lo com o próprio corpo, mas não conseguiu. Uma bala de fuzil se alojou na cabeça do menino. Levado às pressas para um pronto-socorro particular, o garoto logo foi transferido ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, outro bairro da Zona Norte, onde passou por uma cirurgia delicada durante a madrugada. “Pensei que o Arthur não fosse sobreviver. Eu só conseguia orar: ‘Meu Deus, não leva o menino! Não leva!’”, relembra sua mãe, Sara, com os olhos marejados. Assim que a cirurgia terminou, a família recebeu a boa notícia: o paciente havia resistido. A bala de fuzil, porém, ficaria alojada no tronco encefálico de Arthur para sempre. Extraí-la dali, a base do cérebro, poderia matar a criança.

Um dia depois, o menino conseguiu uma vaga em outro hospital público, o Getúlio Vargas, no bairro da Penha Circular, onde permaneceu em estado grave e sob coma induzido por uma semana. Para surpresa dos médicos e enfermeiros, melhorou significativamente e recebeu alta. “Foi um milagre”, acredita a mãe. Um milagre que a família, adepta da Igreja Batista, celebra todo mês de janeiro, há cinco anos, com uma cerimônia religiosa.

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Embora tenha sobrevivido, Arthur carrega as marcas da tragédia. O garoto perdeu os movimentos do braço direito e a capacidade de caminhar. Locomove-se com cadeira de rodas e só consegue dar alguns passos quando usa um andador. No dia em que saiu do Getúlio Vargas, não enxergava nada. Recuperou a visão gradativamente, mas se tornou míope e desenvolveu um leve estrabismo, o que o obriga a usar óculos. Sua fala também sofreu danos e ficou mais lenta.

O incidente abalou as finanças da família. Sara, que trabalhava doze horas diárias como auxiliar numa creche, abandonou o emprego para cuidar do menino em tempo integral. Hoje, nos escassos momentos livres, ela faz adereços de festas infantis sem sair de casa. Seu marido, responsável pelo grosso da renda familiar de 3 mil reais por mês, encara jornada dupla. Durante parte do dia, é motorista de aplicativo. À noite, é segurança. Os gastos mensais com o tratamento do filho consomem um terço da renda familiar.
Cinco anos depois do tiroteio, o inquérito sobre o caso continua aberto e sem respostas. A perícia da Polícia Civil considerou “inconclusiva” a origem do disparo que feriu o menino. No entanto, os pais de Arthur sustentam que, pela posição dele na quadra, o tiro só poderia ter partido dos fuzis usados por policiais da UPP.

O drama do garoto não é fruto do acaso, escreve a repórter Augusta Lunardi na edição deste mês da piauí. Quando o tiro acertou Arthur, 2019 tinha acabado de terminar com um recorde macabro. Foi o período em que mais se registraram homicídios cometidos por policiais no território fluminense desde o início da série histórica, em 1998. A desastrosa gestão do então governador Wilson Witzel explica o crescimento da truculência. O ex-juiz se orgulhava da alta letalidade policial. “Ao conquistar o cargo, o governador não apresentou uma política de segurança pública no sentido rigoroso do termo – ou melhor: baseada no diagnóstico de diferentes cenários e no planejamento minucioso de ações. Ele preferiu abraçar o populismo penal: a exploração do ódio à bandidagem com o objetivo de colher dividendos eleitorais”, afirma o sociólogo Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), associado à Universidade Federal Fluminense (UFF).

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A “política do abate” que Witzel implantou sob a justificativa de enfrentar o narcotráfico afetou sobretudo as favelas da capital fluminense e as periferias das cidades vizinhas. Infelizmente, muitas crianças e adolescentes pagaram a conta. O atual governador do Rio, o advogado Cláudio Castro (PL), quase não alterou a estratégia linha-dura de seu antecessor. O mais recente boletim anual do instituto Fogo Cruzado mostra que 26 crianças foram baleadas em 2024, no Grande Rio, cifra superior às dos sete anos anteriores. Quatro das 26 morreram. Também no ano passado, 38 adolescentes foram alvejados – 19 não resistiram. Neste ano, até meados de julho, o instituto computou 32 vítimas de tiros com idades entre 0 e 17 anos. Onze morreram.

 Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem aqui.

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Piauí Folha

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Editor Cultive1

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