Carregador de carro elétrico: saiba o que é necessário para instalar no seu condomínio
Especialistas detalham como funciona o processo de instalação de carregadores elétricos, além de abordar questões sobre o gerenciamento de uso, custos e responsabilidades.
À medida que os veículos elétricos ganham popularidade, muitos residentes de condomínios estão considerando instalar carregadores nas garagens compartilhadas. Embora não exista uma lei federal que obrigue a instalação, essa é uma tendência crescente que valoriza o imóvel, atrai novos moradores e se alinha aos conceitos de sustentabilidade.
Em agosto, foi publicada a nova Diretriz Nacional sobre Ocupações Destinadas a Garagens e Sistemas de Alimentação de Veículos Elétricos (SAVE). O documento, elaborado pelo Conselho Nacional dos Comandantes-Gerais dos Corpos de Bombeiros Militares, define padrões de segurança para a recarga de veículos elétricos em garagens no Brasil. A implementação efetiva dessas normas está prevista para fevereiro de 2026.
Nos condomínios mais antigos, a instalação de carregadores depende de aprovação em assembleia, enquanto novos empreendimentos podem ter exigências específicas em algumas cidades e estados.
1. Consultar o regimento interno e a demanda dos moradores
Antes de considerar a instalação, é essencial verificar o Regimento Interno e a Convenção do Condomínio, pois pode haver restrições ou proibições quanto à instalação de novos dispositivos elétricos nas áreas do condomínio. Além disso, é importante levantar o interesse dos moradores.
“Em condomínios recentes pode haver previsão na convenção, já em edifícios antigos não há. Cada condomínio poderá regularizar e normatizar suas próprias regras conforme a necessidade e aprovação dos moradores”, esclarece Rodrigo Karpat, presidente da Comissão Especial de Direito Condominial da OAB.
2. Analisar a infraestrutura elétrica
É necessário contratar um engenheiro eletricista para inspecionar a infraestrutura do condomínio, identificar a capacidade do sistema e possíveis limitações para receber a carga adicional dos carregadores.
“O condomínio precisa oferecer condições básicas aplicáveis em toda a sua extensão. Não se trata de uma estrutura específica para uma oportunidade, mas de uma estrutura global que será avaliada pelo engenheiro eletricista e pelo cálculo de energia da área”, afirma Rodrigo.
Segundo Franco Vieira, engenheiro eletricista da G2 Energia, os principais requisitos incluem:
- Disponibilidade de carga: verificação da potência no quadro geral de energia, com circuito exclusivo para cada carregador, conforme normas NBR 5410 e NBR IEC 61851-1.
- Proteção elétrica: disjuntores e dispositivos contra sobrecorrente e fuga à terra, com cabeamento dimensionado de acordo com a potência e distância até a vaga.
- Pontos de conexão: planejados em áreas comuns ou preparados para individualização nas unidades.
3. Elaborar um projeto técnico
Após a análise da infraestrutura, o engenheiro deve elaborar um projeto detalhado.
“O projeto elétrico garante que a instalação siga normas técnicas, evite riscos de incêndio e assegure a longevidade da infraestrutura. Sem essa etapa, o condomínio corre riscos de sobrecarga, falhas e acidentes elétricos”, explica Franco Vieira.
O projeto previne sobrecarga, dimensiona corretamente a rede, emprega sistemas de balanceamento dinâmico de carga, agenda carregamentos em horários de menor demanda e contempla expansão futura, garantindo estabilidade e prolongando a vida útil dos equipamentos.
Caso o laudo aponte necessidade, o condomínio ou o morador responsável deve fazer adaptações na rede elétrica.
4. Aprovação em assembleia
O laudo e o projeto devem ser submetidos à assembleia para deliberação dos condôminos. É necessário quórum mínimo de 50% + 1 dos condôminos presentes, para discutir custos, orçamento, responsabilidades e normas de uso.
“Devem ser levados para deliberação em assembleia para entender a vontade dos condôminos. Se aprovado, será necessário determinar se haverá mudança no local de instalação ou uso das vagas existentes”, explica Rodrigo.
5. Contratar empresa especializada
Após aprovação, a instalação deve ser realizada por empresa especializada, seguindo o projeto e normas de segurança, como ABNT NBR 17019, com emissão de ART e seguro de responsabilidade civil.
Modelos de carregador e sistema de gerenciamento
A escolha do modelo depende do número de usuários, disponibilidade de energia, velocidade de recarga e compatibilidade com sistemas de gestão.
“Os mais recomendáveis são os wallbox de parede, com potência entre 7,4 kW e 22 kW, equilibrando custo, eficiência e segurança”, explica Franco Vieira.
Um sistema de gerenciamento permite medir consumo individual, emitir relatórios e faturas automáticas, definir regras de uso e monitorar em tempo real, prevenindo sobrecargas. Rodrigo Karpat reforça que a gestão deve ser aprovada em assembleia e dimensionada conforme a necessidade do condomínio.
Custos e responsabilidades
O pagamento pode ser feito de três formas:
- Coletivo: rateio entre todos os condôminos quando a infraestrutura beneficia a coletividade.
- Individual: custo individual quando o ponto é solicitado por um morador.
- Híbrido: condomínio investe na infraestrutura e moradores interessados arcam com ponto individual e consumo.
Quanto à responsabilidade por falhas elétricas:
- Condomínio: falhas na infraestrutura comum (quadros, cabeamento e proteções).
- Morador: uso inadequado do ponto instalado em sua vaga.
- Empresa: erros de planejamento ou execução do projeto.
“Qualquer instalação fora das normas ou sem verificação do engenheiro eletricista pode gerar riscos e responsabilidade civil para o condomínio e síndico pessoalmente”, finaliza Rodrigo.