Os labirintos de Veneza na visão de Brodsky

“Numa tarde de novembro de 1977, no Londra, onde eu me hospedara em Veneza por cortesia de uma bienal dedicada ao tema da dissidência política, recebi um telefonema de Susan Sontag, então alojada no Gritti pelas mesmas circunstâncias.” Assim começa o trecho do livro Marca d’água: um ensaio sobre Veneza, de Joseph Brodsky (1940-96), que a piauí publica nesta edição. O poeta russo continua:

“‘Joseph’, ela disse, ‘o que você vai fazer hoje à noite?’ ‘Nada’, respondi. ‘Por quê?’ ‘Bem, eu topei com a Olga Rudge na piazza. Você a conhece?’ ‘Não. A mulher do Pound?’ ‘Isso’, disse Susan. ‘Ela me convidou para ir à casa dela hoje à noite. Tenho medo de ir sozinha. Você iria comigo, se não tiver outros planos?’”

O encontro dos três não deixa de ser tenso, porque Sontag interpela insistentemente a mulher de Pound sobre a inclinação fascista e o antissemitismo do poeta.

Marca d’água será lançado no Brasil pela editora Âyiné em abril. Nele, Brodsky – Prêmio Nobel de Literatura em 1987 –, reflete sobre a paisagem, a história, a gente e os mistérios de Veneza, cidade que ele visitou no inverno.

“A luz do inverno nesta cidade!”, ele reflete. “Essa luz tem a extraordinária propriedade de conferir uma precisão microscópica à capacidade de resolução dos olhos – a pupila, especialmente quando da variedade acinzentada ou próxima da mostarda e mel, desbanca qualquer lente Hasselblad e revela suas memórias subsequentes com uma nitidez digna da National Geographic.”

Para o poeta, a cidade também se configura como um conjunto de labirintos: “Assim, quando atravessamos esses labirintos, nunca sabemos se estamos em busca de alguma coisa ou se fugimos de nós mesmos. Se somos caça ou caçador”, escreve Brodsky.

Assinantes da revista podem ler o trecho de Marca d’água neste link.

Piauí Folha

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