Para boa parte das pessoas que não estão familiarizadas com a China e sua cultura, a suposição que predomina é a da homogeneidade, de uma grande massa de pessoas que têm feições, pensamentos e comportamentos mais ou menos parecidos.
A ameaça dessa horda de bilhões com uma só mente e uma só vontade pronta para manifestar pelo mundo inteiro suas ambições coletivas é o que alimenta a imaginação de economistas e políticos hoje, observa o escritor malaio de origem chinesa Tash Aw na edição deste mês da piauí. Ele é autor do livro Estranhos no cais: retrato de uma família, que será lançado neste mês pela Editora Todavia.
O governo chinês promove de bom grado essa imagem de “uma só China” que consiste em um país monocultural habitado majoritariamente por um só grupo racial, os chineses Han, que respondem por 90% da população da República Popular e 19% da população mundial.
Mas a China é um continente inteiro, quase tão grande quanto a Europa e apinhada de diferenças geográficas e culturais em escala dramática. Alguém do extremo Norte da China não pertence ao mesmo grupo cultural ou linguístico de alguém do extremo Sul ou Oeste; uns e outros não partilham os mesmos costumes, língua, culinária, vestimenta, clima. A única coisa que têm em comum é o mandarim, o idioma nacional que todos os 56 grupos étnicos reconhecidos aprendem na escola, o idioma do governo e do comércio. Apenas em casa os chineses falam seus respectivos dialetos.
Tash Aw escreve: “A realidade é que a China, tal como o fato de ser chinês, implica uma variedade vertiginosa, muitas vezes até exaustiva; viajar pela China e pelos países chineses da Ásia Oriental significa dar os mesmos saltos culturais e linguísticos que estudantes universitários fazem naqueles mochilões de trem pela Europa. As pessoas podem até ter uma cara parecida, mas são diferentes.”
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