Na África, a guerra de desinformação da Rússia

Em uma manhã de novembro de 2019, uma ligação telefônica mudou radicalmente a vida do jornalista Ephrem Ngonzo, nessa época redator-chefe do Le Potentiel Centrafricain, um popular site de notícias na República Centro-Africana. Do outro lado da linha, alguém se apresentou como membro da “missão russa” no país. Essa era a denominação usada pelo Grupo Wagner, uma organização paramilitar russa, para encobrir suas atividades de comunicação no país, desde a chegada de seus primeiros mercenários, em 2018.

Um encontro foi marcado para o mesmo dia. Em um café em Bangui, Ngonzo se deparou com um russo que se apresentou apenas como Micha. Tratava-se de Mikhaïl Mikhaïlovich Prudnikov, antigo membro do Nachi, um movimento de jovens apoiadores de Vladimir Putin. Na República Centro-Africana, ele era um dos responsáveis pelo funcionamento do Africa Politology, uma das principais plataformas de desinformação do Grupo Wagner no continente africano.

Micha propôs a Ngonzo uma colaboração secreta. Durante dois anos e meio, entre 2019 e 2022, o jornalista foi responsável pelas relações entre os mercenários do Grupo Wagner e a imprensa local. Em outras palavras, foi o homem da “desinformação” e das “mensagens de ódio”, como ele próprio confessa. “Ajudei a manter meu país no caos”, diz Ngonzo, de 29 anos. “Agora, quero denunciar tudo, para reparar o mal que fiz, para me libertar da vergonha e do arrependimento.”

Em Bangui, assim como em Bamako, capital do Mali, e Uagadugu, capital de Burkina Faso, equipes especializadas em “operações de influência” trabalha­vam a serviço das ambições de Vladimir Putin na África. Um documento interno do Grupo Wagner menciona a necessidade de “promover uma ima­gem positiva da Rússia entre os cidadãos africanos” e de incentivar a “formação de atitudes negativas em relação às po­tências europeias”. Para intensificar essa tensão, Ngonzo foi encarregado de orga­nizar manifestações contra uma missão da ONU na República Centro-Africana, a Minusca, e contra dois países em par­ticular: a França e os Estados Unidos.

Levou um ano e meio para Ngonzo conseguir se libertar dessa relação com o Grupo Wagner. Depois de escapar de ameaças de morte, ele fugiu de seu país e chegou à França. A fuga só foi possível graças ao apoio da Plataforma de Proteção de Denun­ciantes na África. A história desse arrependido e das manobras do Grupo Wagner na República Centro-Africana foi investigada pelo jornal francês Le Monde e seus parceiros internacionais, sob coordenação da orga­nização Forbidden Stories – uma rede de jornalistas investigativos fundada em 2017 para dar continuidade ao trabalho de repórteres silenciados. A piauí publica a história de Ngonzo e do Grupo Wagner na África na edição deste mês da revista. 

Assinantes podem ler a íntegra da reportagem neste link.



Piauí Folha

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