Numa das casas em que a família de Antonio Candido morou na década de 1960, durante alguns anos só se podia usar o chuveiro, porque a banheira ficou tomada até o topo pelo material utilizado pelo crítico para escrever o clássico Formação da literatura brasileira, momentos decisivos 1750-1880. Eram “manuscritos, fotocópias, microfilmes, textos datilografados em mais de uma versão, pastas, cadernos, conjunto de originais que, a certa altura, meu pai jogou fora num rompante. Não sem antes – é provável – destruir minuciosamente tudo, como era hábito dele em ocasiões semelhantes”, escreve a escritora e editora Ana Luisa Escorel, filha do crítico, na edição deste mês da piauí.
O livro Formação da literatura brasileira é cercado por histórias de todo tipo, diz a escritora, que conta algumas delas, envolvendo a contratação da obra por José de Barros Martins, da Livraria Martins Editora, a escrita da obra, o seu lançamento há 65 anos, em 1959, e a repercussão e relevância que alcançou nos campos da história, da crítica e da análise literárias.
“Até o final dos anos 1980, a ferramenta obrigatória de quem escrevia era a máquina datilográfica. Na casa em que eu cresci havia três: uma Remington preta e parruda, uma Hermes Baby, menorzinha, e uma Royal verdadeiramente majestática. A Remington quem usava era minha mãe. Meu pai se ajeitava com a Hermes Baby acionada apenas com os dois indicadores, já que, à diferença de minha mãe, nunca fizera curso de datilografia.”
A máquina de escrever Royal chegou até Antonio Candido em circunstâncias bastante especiais: foi dada ao crítico pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, que, de partida para a Itália, resolveu trocá-la por uma máquina portátil. “Assim, logo que pôs as mãos na máquina, meu pai mandou fazer uma vistoria completa com troca de teclado, trabalhou nela por quase quarenta anos e nela escreveu grande parte da Formação da literatura brasileira”, relembra Ana Luisa Escorel.
Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link