Eduardo Bolsonaro estava muito irritado. A caminho ao encontro organizado por ele chamado “Cúpula Conservadora”, na manhã do domingo dia 27 de julho, na Flórida, ele comentava sobre um evento organizado pela XP Investimentos no dia anterior, em São Paulo, com a participação de três governadores bolsonaristas: Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ronaldo Caiado (Goiás) e Ratinho Jr. (Paraná). O tema principal promovido pela instituição financeira da Faria Lima girou em torno das tarifas econômicas aplicadas por Donald Trump, um desdobramento direto da articulação de Eduardo como forma de anistiar o seu pai da prisão pela trama golpista.
“Os três falaram que a relação econômica está acima de Bolsonaro”, espumou Eduardo. “O Trump abriu a carta dele falando de Bolsonaro, fez posts citando Bolsonaro, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil retuitou Bolsonaro. E daí, lá do Brasil, (os governadores de direita) ficam falando em evento da XP que não é sobre Bolsonaro?” Ele continua: “A elite econômica e os políticos de direita falam apenas nas tarifas e seus desdobramentos, mas esquecem o recado claro de Trump: sem anistia, não tem recuo. Parece que muitas pessoas não entenderam isso”.
Indignado, Eduardo critica em seguida as pretensões eleitorais dos governadores. “São carniceiros que querem os restos do espólio de Jair Bolsonaro, mas só levarão o voto da direita se não tiver ninguém mais à direita”, disse. Logo em seguida, ele explicou sobre as suas ambições: “Se eu for candidato, explodo o debate.”
Em julho, Eduardo Bolsonaro aceitou que o repórter João Batista Jr., da piauí, o acompanhasse durante cinco dias. Os dois estiveram juntos em Dallas, Miami e Washington. Em quase todas as conversas, Eduardo falou do pai, do ministro Alexandre de Moraes e da “ditadura brasileira”. Apesar da má repercussão da aplicação de tarifas de 50% contra as exportações brasileiras, ele continua obcecado com a ideia de acionar todas as armas possíveis contra o Brasil, sejam de natureza política ou econômica, custe o que custar.
Nas conversas, Eduardo também manifestou dissabores dentro do próprio partido, o PL. Conta que fez reuniões com Valdemar Costa Neto, presidente da sigla, antes de se mudar para os Estados Unidos. Pediu estrutura para sua missão americana: advogado, uma secretária, uma sala comercial na Flórida. Não foi atendido. “É um não sem dizer não. Ele vai dizendo que não é prioridade”, protesta Eduardo, referindo-se ao comportamento ambíguo de Costa Neto.
Em seguida, ele faz comparações. Diz que o PL banca um jato para que o deputado mineiro Nikolas Ferreira rode pelo Brasil. “E para mim, nada?” E logo se compara com sua madrasta. “Soube pela imprensa que a Michelle custa ao todo 800 mil reais por mês.” Ele informa que a quantia se refere a gastos com salário, equipe e viagens em jatos fretados. (Procurado, Costa Neto não quis confirmar os gastos mensais de Michelle, nem as reuniões com Eduardo.)
“O problema não é ela receber isso. A Michelle é uma pessoa boa comigo”, diz. “A pergunta que eu faço é: será que o partido não vê que o que eu faço aqui é muito mais relevante?” Trocando em miúdos: na disputa por um candidato com o sobrenome Bolsonaro na chapa presidencial, Eduardo acredita que Costa Neto rejeita seu nome em favor do de Michelle apenas porque pode controlá-la.
Leia aqui a íntegra da reportagem publicada na edição_228 da piauí.