A bióloga Vanessa Staggemeier tentou publicar seu artigo científico em três revistas especializadas – em vão. Só conseguiu na quarta tentativa, junto à revista Biotropica, uma publicação tradicional na área de ecologia e conservação tropical, depois de passar por um périplo de revisões que durou oito meses. As respostas de Staggemeier e das outras duas autoras aos revisores somaram 87 páginas, um volume mais extenso que do próprio artigo escrito por elas.
Os artigos científicos são o principal fruto do trabalho de um pesquisador. Quando alguém fala em “produção científica”, costuma se referir ao número de artigos que um cientista publicou. Uma etapa central desse processo, antes da publicação, é a chamada revisão por pares, quando o editor encaminha o texto para dois ou três cientistas independentes, especializados no tema do artigo, que atuarão como revisores.
A revisão por pares nos moldes atuais só se tornou comum nos anos 1970, quando o volume de publicações cresceu tanto que os editores não conseguiam mais tomar as decisões sozinhos. Um estudo publicado na revista Research Integrity and Peer Review em 2021 calculou que, no ano anterior, revisores no mundo todo trabalharam mais de 100 milhões de horas, o equivalente a cerca de 15 mil anos. Se esse tempo fosse dinheiro, só no caso de revisores baseados nos Estados Unidos, valeria mais de 1,5 bilhão de dólares. Mas as revisões são feitas de forma voluntária pelos pares.
Não por que falte dinheiro às editoras. Apenas a holandesa Elsevier – uma das “cinco grandes” do mercado da publicação científica – lucrou, em 2022, mais de 1 bilhão de libras (mais de 6 bilhões de reais) e obteve uma margem de lucro de 37,8%. É mais do que lucrou a Petrobras, que registrou o maior percentual entre todas as petroleiras do mundo, da ordem de 27,3% em 2022. Editar artigo científico vale mais que petróleo.
Em razão da concentração de editoras, do monopólio sobre o mercado científico, dos valores bilionários e da arbitrariedade da revisão dos pares emergiu um movimento chamado Ciência Aberta, que luta por formas mais transparentes de divulgar as pesquisas, contam Clarice Cudischevitch e Kleber Neves na edição deste mês da piauí.
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