A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi encontrada pela polícia italiana em Roma. Ela estava vivendo no sexto andar de um prédio nos arredores do Vaticano, na casa de uma brasileira. Homens da corporação Digos (Divisione Investigazioni Generali e Operazioni Speciali) a conduziram para uma delegacia para tomada de informações, quando já era noite na capital italiana. O Ministério da Justiça brasileiro afirma que ela foi presa.
A polícia vinha seguindo pistas, que não se confirmaram, de que a deputada estava em outras cidades, como Siena. Agentes também chegaram a investigar a presença dela na região da Campânia.
Em maio, Zambelli foi condenada pela Primeira Turma do STF a dez anos de prisão e perda do mandato por ter contratado um hacker para invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No começo de junho, o ministro Alexandre de Moraes determinou sua prisão preventiva. Dias antes da decisão, no entanto, a deputada embarcou para os Estados Unidos, de onde partiu, em seguida, para a Itália, munida de documentos que atestam sua cidadania italiana. Desde então, ela constava na lista de criminosos procurados da Interpol.
Em entrevista concedida à GloboNews na segunda-feira (28), o advogado Fábio Pagnozzi, que representa Zambelli, afirmou que a deputada aguardava apenas um pedido formal das autoridades italianas para se apresentar à polícia. Enquanto isso, ela seguia ativa nas redes sociais, por meio de uma nova conta que criou meses atrás no Instagram, driblando a decisão de Moraes que havia ordenado a exclusão de seus perfis em redes sociais. Nas postagens, a deputada se referia à sua permanência na Itália como um “exílio” e proferia ataques contra o STF.
Embora Zambelli tenha sido condenada a perder o mandato de deputada, cabe à Câmara analisar sua cassação. Ainda em junho, o presidente da Casa, deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), encaminhou para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o processo de cassação de Zambelli. A análise do caso ainda não foi concluída. Se for aprovado pela comissão, ele deverá ser encaminhada para votação no plenário da Câmara.
Zambelli ganhou notoriedade como militante antipetista nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2015 e 2016. Alinhada com a candidatura vitoriosa de Jair Bolsonaro em 2018, ela se filiou ao PSL, partido que reunia a trope de elite do bolsonarismo, e se elegeu deputada federal por São Paulo. Em 2022, conseguiu se reeleger com a segunda maior votação do estado de São Paulo, cerca de 950 mil votos. Mas caiu em desgraça no bolsonarismo quando, a dias do segundo turno daquela eleição, foi filmada apontando uma arma para um homem com quem tinha discutido no bairro dos Jardins, em São Paulo. A cena, que mostra a deputada perseguindo o homem com arma em punho, viralizou e se tornou uma vidração na campanha de Bolsonaro, que sempre defendeu uma liberação mais ampla do porte de armas de fogo.
O ex-presidente e seu entornou nunca perdoaram Zambelli, a quem culparam pela derrota para Lula. “A Carla Zambelli tirou o mandato da gente”, disse Bolsonaro numa entrevista recente a um podcast. Por causa daquele episódio, Zambelli também responde a um processo no STF pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. O julgamento foi aberto em março e os ministros já formaram maioria pela condenação da deputada. A votação, contudo, ainda não foi concluída.