Na tarde do dia 27 de julho, um domingo, Eduardo Bolsonaro organizou, nos Estados Unidos, um evento chamado Cúpula Conservadora, destinado a brasileiros bolsonaristas radicados por lá. O encontro se deu em uma sala lotada de uma universidade cristã na cidade de Deerfield Beach, 70 km ao Norte de Miami. Todos os palestrantes do evento eram brasileiros e ex-alunos de Olavo de Carvalho. Entre eles, Allan dos Santos, que fugiu do Brasil em 2021, quando teve sua prisão decretada por disseminar notícias falsas, a juíza Ludmila Lins Grilo, aposentada compulsoriamente depois de atacar o STF, além de Paulo Figueiredo e do próprio Eduardo. O mediador era Rafael Satiê, vereador do PL do Rio de Janeiro que ganhou projeção levando cariocas para manifestações em São Paulo.
O evento contou com mais de 250 pessoas e teve lista de espera devido a alta demanda. O prefeito da cidade, o republicano Todd Drosky, agradeceu Eduardo por sediar o encontro ali. Ele afirmou à piauí que 20% da população de Deerfield é composta de imigrantes brasileiros. Na plateia estavam Bruno Zambelli (PL), deputado estadual por São Paulo e irmão da Carla Zambelli – que, naquela ocasião, ainda não havia sido presa na Itália –, e o casal Larissa e Mario Martins, fundadores do grupo Yes Brazil USA, criado na Flórida logo depois da facada em Bolsonaro, em 2018. A entidade, diz o site, é “centrada em fundamentos judeu-cristãos de suporte à família, apoio à livre-iniciativa e incentivo ao desenvolvimento pessoal de cada cidadão”. Na prática, organizam eventos e passeatas nos Estados Unidos a favor de Bolsonaro. “Fomos nós que apresentamos o Rick Scott ao Paulo”, diz Mario Martins, referindo-se ao senador republicano e a Paulo Figueiredo. “Daí, o Paulo apresentou o senador para o Eduardo.” Rick Scott já foi governador da Flórida e é um obstinado aliado de Trump. Martins tem fazenda de búfalos na Ilha de Marajó, no Pará.
A pessoa mais influente na plateia, porém, era o carioca Pedro Valente, que se mudou para Miami em 1993 para cursar MBA em administração de empresas. Hoje, ele e seus dois irmãos são donos de três unidades de uma academia de jiu-jítsu, a Valente Brothers, onde treinam o casal Ivanka Trump e Jared Kushner e seus três filhos. Um dos irmãos de Pedro Valente, Joaquim, é companheiro da modelo Gisele Bündchen e pai de seu terceiro filho. Joaquim e Gisele costumam viajar com o casal Ivanka e Kushner para a Costa Rica. Na última segunda-feira, Gisele e Ivanka foram vistas juntas passeando em um iate com familiares.
“Eu treino jiu-jítsu duas horas, toda sexta, com o Pedro, um grande amigo de muitos anos”, diz Paulo Figueiredo. “Já o Joaquim é o meu instrutor de tiro”, diz ele. Ao ser questionado se conhece Gisele Bündchen, ele responde: “Demais.”
Na cerimônia de posse de Trump, em janeiro passado, nenhum brasileiro esteve tão bem posicionado quanto Pedro Valente: sentou-se à mesa com a família Trump. Mas ele faz questão de informar que sua academia é “laica”, querendo dizer que atende cidadãos de qualquer ideologia. Como prova de seu ecumenismo político de origem, ele afirma: “O meu pai foi secretário de Saúde do Leonel Brizola”, diz ele sobre o cirurgião plástico Pedro Valente, secretário de Brizola no governo do Rio de Janeiro. Pedro diz que públicos de todos os espectros ideológicos são bem-vindos em seus tatames. Foi dentro da academia que Gisele conheceu Joaquim, pai de seu terceiro filho.
Na edição_228 da piauí, o repórter João Batista Jr. conta também sobre um episódio no qual Pedro Valente deu provas cabais de sua influência, quando vinte homens da Swat invadiram um churrasco na casa de um amigo, no qual também estavam brasileiros como Eduardo Bolsonaro e Fabio Wajngarten, após uma denúncia de que havia cadáveres escondidos, que se mostrou infundada.
A reportagem narra a saga do deputado federal Eduardo Bolsonaro pelos Estados Unidos, na missão de livrar o pai da prisão. O repórter acompanhou o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro por três cidades americanas durante cinco dias, fez uma série de entrevistas, e detalha a estratégia dele para mobilizar o país em medidas contra o Brasil que possam servir de pressão contra a Justiça e o governo brasileiro.