“O que você quer fazer da vida?” Essa pergunta vinha perseguindo Luísa Matsushita havia tempos, à medida que se aproximava de seus 30 anos. Ela estava cada vez mais incomodada com o rumo que sua vida tinha tomado como cantora do Cansei de ser sexy, ou CSS, do qual é a principal vocalista, com o pseudônimo de Lovefoxxx. O grupo de música pop-rock e eletrônica obteve grande sucesso no início dos anos 2000 e continua a ser uma das bandas brasileiras mais admiradas no exterior. “Eu queria ser uma designer famosa, não uma celebridade pop. Cantar nunca foi o que me propus fazer. Eu não sei cantar, eu não gosto de cantar”, ela diz a Danilo Marques, na edição deste mês da piauí.
Matsushita não deixou o grupo – formado também por Ana Rezende, Luiza Sá e Carolina Parra –, mas resolveu buscar um novo caminho para sua vida. Levando adiante seu gosto pelo desenho, que praticava havia anos, ela decidiu se tornar artista visual. Em 2014, fez uma exposição individual em Oakland, na Califórnia. Em 2023, foi convidada para outra exposição individual, agora na Galeria Luisa Strina, uma das mais conceituadas de São Paulo.
A galeria acabou se interessando em representar a nova artista, e Matsushita passou a se dedicar com mais afinco à pintura. Alugou um ateliê em São Paulo, onde agora se refugia quando não está em turnê. Aos 41 anos, ela diz que a rotina de shows já não lhe faz bem e que muitas vezes prefere ficar no ateliê, sozinha, em silêncio.
É uma mudança e tanto para alguém que duas décadas atrás, com o Cansei de ser sexy, fez muito barulho e empolgou a juventude nos clubes mais antenados de São Paulo e de outras metrópoles pelo mundo com suas músicas debochadas e as performances irreverentes.
Lançado em 2003, o Cansei de ser sexy alcançou em dois anos uma grande projeção internacional. Em 2007, o grupo fez trezentos shows em vários países, uma média de 25 apresentações por mês. “Cada dia a gente estava num país, cada dia a gente acordava num país diferente”, relembra Adriano Cintra, o único homem da banda e o autor ou coautor de quase todas as músicas nessa época. Para facilitar a pronúncia dos fãs estrangeiros, o grupo passou a privilegiar como nome a própria sigla: CSS.
Cintra desligou-se do grupo em 2011, e dois anos depois assinou um distrato de contrato, depois de uma série de atritos no grupo. Em suas redes sociais, ele argumenta que, nos shows que sucederam a sua saída, as quatro integrantes continuaram tocando as músicas com as bases eletrônicas feitas por ele. Mas o quarteto alega que todas as bases para execução ao vivo das músicas foram refeitas em 2012. “Ele acha que não fizemos isso porque pensa que não somos capazes”, diz Ana Rezende. A disputa se prolonga até hoje, tanto assim que Matsushita pediu à piauí que não revelasse onde fica seu ateliê, para evitar uma eventual visita de Cintra. “Quando vejo que ele me enviou um e-mail, eu me sinto mal”, diz. Cintra confessa ter um “grande carinho por ela”, com uma ressalva: “Mesmo depois de todos os abusos cometidos contra mim.”
Em seu ateliê, ela trabalha seis dias por semana. Com a carreira nas artes visuais se consolidando, ela preferiu reservar o apelido Lovefoxxx para os palcos. “Eu guardei meu nome próprio para o que eu mais queria na minha vida”, diz. Suas telas são assinadas como Luísa Matsushita.
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