Síndicos e porteiros treinados: como os condomínios estão combatendo a violência contra mulheres
A violência doméstica, infelizmente ainda presente em muitos lares brasileiros, passou a ser enfrentada também dentro dos condomínios residenciais. Com o aumento nos casos e a maior visibilidade sobre o tema, síndicos, porteiros e moradores vêm adotando protocolos específicos de segurança e prevenção, transformando os condomínios em ambientes de acolhimento e vigilância ativa.
É o caso do porteiro Everaldo, que atua há mais de 11 anos em um condomínio no bairro do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Segundo ele, ao identificar sinais de agressão, o procedimento é claro:
“A gente liga para a polícia e entra em contato com a unidade para falar com a moradora”, explica.
A iniciativa integra um conjunto de medidas implementadas por condomínios atentos à crescente preocupação com a violência de gênero. Segundo a síndica profissional Margarethe Batista, os funcionários passaram por treinamentos voltados à prevenção da violência contra a mulher, e os moradores são estimulados a denunciar de forma anônima qualquer situação suspeita, sem necessidade de identificação.
O advogado criminalista Rafael Paiva reforça que o envolvimento de testemunhas é uma obrigação legal:
“Se alguém presencia um crime e tem condições de agir, deve fazê-lo. Caso contrário, pode responder por omissão de socorro”.
Ele destaca ainda que, em muitos casos, a denúncia é obrigatória mesmo sem consentimento da vítima, já que se trata de crime de ação penal pública incondicionada.
Outro recurso importante na luta contra a violência são as câmeras de segurança instaladas nas áreas comuns dos prédios. Elas vêm sendo fundamentais para registrar agressões e auxiliar na investigação dos casos.
“Muitas mulheres se sentem mais seguras nesses espaços porque sabem que estão sendo gravadas”, destaca Margarethe.
Os dados confirmam a gravidade da situação: de acordo com o Ministério das Mulheres, as denúncias aumentaram 15% no último ano, com 132 mil registros em 2024 contra 114 mil em 2023.
Dois episódios recentes ilustram o papel decisivo dos profissionais condominiais. Em Natal (RN), o ex-jogador Igor Cabral foi preso após agredir brutalmente a namorada dentro de um elevador. O porteiro viu as imagens e acionou a polícia imediatamente. Em São Paulo, o fisiculturista Pedro Camilo Garcia também foi preso após agredir a companheira dentro do apartamento. Um vizinho ouviu os gritos e chamou as autoridades. As câmeras ajudaram a localizar o agressor.
“O velho ditado ficou para trás. Hoje em dia, a gente mete a colher sim, chama a polícia”, afirma Everaldo.
Nos condomínios brasileiros, cresce a consciência de que silêncio e omissão não salvam vidas — mas que agir, sim.